Antes de mais nada, o que é um Iron Butt? É um grupo de pilotos que tem por objetivo viagens de longa duração realizadas em um determinado tempo. O pessoal que gerencia as certificações chama-se IBA (Iron Butt Association) e localizam-se nos Estados Unidos. Já existem sucursais pelo mundo (Reino Unido, África do Sul, México, Austrália) e acho que logo teremos a brasileira, graças aos trabalhos de alguns pilotos brasileiros : Carrazone, Mazzo, etc. E no que consiste uma prova Iron Butt? Viagens com determinada distância, por exemplo 1600 km (mil milhas) ou 2000 km e que devem ser feitas em 24 horas ou menos. É necessário dizer que não se preconiza a velocidade, mas sim a pilotagem segura, dentro da legislação e nas rodovias. Para saber mais visite o site americano ou leia em português Iron Butt Association.
A primeira certificação Iron Butt
A prova que realizei fez parte do Memorial Ride Percy Negreiros da Costa. Foi uma homenagem que o André criou para o Percy, falecido em 2014 e outro grande bunda de ferro.
E como foi? Foi legal! Fiz todo o planejamento logo que foi criado o memorial. Criei duas opções uma para Santa Catarina e outra para São Paulo. Como estamos em ano de El Niño, optei pela parte paulista por estar mais seco, o que acabou sendo uma decisão acertada. Se peguei 15 minutos de chuva, foi muito!
O planejamento visou garantir que o trajeto escolhido teria pelo menos 1600 km e que as rodovias fossem pelo menos boas, o que nesse país não significa muita coisa. Ou seja, acabei fazendo quase todo o trajeto em rodovias pedagiadas. Tirando as cinco praças de São Paulo onde as motos contam com isenção, paguei 15 pedágios! E a constatação: pagar pedágio não significa ter uma estrada livre de buracos. Como se pode ver a agência estatal que cuida das rodovias nada pode contra as concessionárias.
O primeiro ponto de parada, para abastecimento, era para ser em Jaguariaíva, porém o posto não tinha combustível. Segui em frente, e só haviam postos sem bandeira. Resultado, acabei abastecido apenas em Sengés – PR, já com 271 km. O consumo foi excelente, 23,44 km/l, facilmente explicável pela saída à noite e neblina a partir de São Luiz do Purunã. Nessa parada só fui ao banheiro.
Já o segundo ponto de parada foi em Itapetininga – SP, com 195 km e média de 20 km/l. Não andei forte, mas a gasolina sem bandeira não devia ser das melhores. O ponto positivo até aqui foi encontrar as estradas praticamente sem movimento. O que aumenta a média de deslocamento e se corre menos riscos. Daqui segui até para a frente de Tatuí – SP, para pegar a Castelo Branco. Nesse trecho paulista passei por cinco pedágios, todos gratuitos para motos. Já na excelente Castelo Branco você paga para andar. Com a velocidade máxima ali é 120 km/h pude aumentar bastante a média do deslocamento. Nessa parada comprei água mineral, enchi o camelbak e comi um pão de queijo! Mais tarde viria descobrir que o camelbak foi essencial para o sucesso da prova.
Segui até o final da rodovia, próximo a Santa Cruz do Rio Pardo, onde fiz a terceira parada. No Estação Kafé fiz a minha terceira parada. Aqui é uma das paradas administradas pela Rede Graal. O local é muito bonito, a decoração é uma velha estação de trens, mas os preços são os mesmo da rede toda! Banheiro, uma coca-cola e 0,5 litro de água para abastecer o camelbak. Moto abastecida, mais 250 km e 20,83 km/l de média, já com velocidade mais alta.
A partir daqui comecei a sentir cansaço apesar de não ter chegado nem à metade. E o calor aumentando! A quinta parada que deveria ter sido feita antes de Presidente Prudente, um pouco antes da entrada para Regente Feijó, eu passei batido! E fui seguindo, seguindo, até chegar em Presidente Venceslau, onde pegaria a rodovia SP-563. Por sorte avistei um posto Ipiranga,um pouco depois do trevo que eu deveria fazer e segui até para abastecer. Posto Kaó, com hotel, restaurante, bem ao lado da rodovia. Parei, abasteci e almocei um queijo quente com coca-cola, isso às 15:30, mais ou menos. O calor já estava grande, dor nas costas, dor de cabeça e cansaço. Tomei um tandrilax que havia levado para ver se melhorava o mal estar.Nesse ponto eu estava apenas a uns 350 km de Campo Grande – MS! @71 km e média de 21,4 km/l.
A estradas pioraram extremamente ao sair de São Paulo e entrar no Paraná, com o asfalto muito ruim, cheio de buracos. Não peguei chuva, mas ela passou antes e deixou tudo molhado, resultado, fiquei pintado de vermelho, viseira imunda e velocidade baixa.
Agora a ideia era voltar para casa, passando por Itaguajé, Colorado e Nova Esperança, rota que eu havia traçado. Chegando em Colorado – PR, eu me atrapalhei com o GPS e achei que ele estava fazendo a rota errada, pois estava me mandando para o oeste e eu sei que Curitiba está no leste! Desliguei o roteamento que estava seguindo e tentei um novo, que o GPS não conseguia roteirizar. Esse problema já havia acontecido em casa e um hard reset deu conta de consertar. Mas como eu tinha medo que o tal hard reset apagasse os dados até então gravados (tempo, médias e odômetro) eu coloquei o péssimo mapa da Garmin, o City Navigator, e mandei me levar para casa, não sem antes fazer as contas e ver se atingia os 1600 km. Daria, sim.
Toquei por dentro de Colorado,e perdi um tempão para achar a saída, segui para Santa Fé (sexta parada), onde parei para abastecer, pois mais 176 km já havia sido percorridos, média de 19,4 km/l. Conversando no posto me indicaram não passar por Maringá, e sim seguir por Arapongas e Apucarana. Aqui voltei com o mapa Tracksource, que desta vez funcionou, e roteei para casa. Novamente trecho ruim de asfalto, estradas sem acostamento, muito buraco. Mas logo saí das estradas menores e peguei a BR-376, rodovia do Café, que me levaria para Curitiba.
E aí outra surpresa, a estrada é muito ruim, pista simples, pedagiada, e muitas serras. Sem contar as cidades que são cortadas pela rodovia, típica urbanização brasileira, na qual uma rodovia torná-se a rua principal de um lugarejo. Cheguei na rodovia do café com a noite começando a cair. No horizonte formações de nuvens com relâmpagos mostravam que a chuva caía pela região e eu até o momento, seco.
A oitava parada me deixou apreensivo pois somente encontrava postos sem bandeira, sem nada, só as bombas e a quilometragem correndo. Acabei por abastecer em Imbaú – PR, também sem bandeira, mas desta vez um posto maior. Apesar de que, um quilômetro à frente, havia um posto Shell. Abasteci, fui ao banheiro, tomei uma fanta e liguei para casa para dizer que faltava pouco, só uns 245 km. Até aqui mais 242 km e média de 21,7 km/l.
Próxima parada seria no mesmo posto de onde saí, pois essa quilometragem seria tranquila para cumprir. Antes de chegar em Ponta Grossa a chuva me pegou. Os relâmpagos que antes eram distante, agora estavam em cima de mim. Uma bomba de água caiu. Baixei a velocidade para uns 60 km/h, cuidando para não pegar os rios de água que se formam na pista. Lembre-se, rodovia pedagiada! Perto do Parque Estadual de Vila Velha não tinha mais chuva e o asfalto estava seco. Aumentei a velocidade para chegar logo em casa. Aproveitava os carros que me ultrapassavam e os seguia por algum tempo com velocidade maior. Com a queda na temperatura comecei a me sentir melhor e não tive sono, o que me deixou tranquilo para terminar a prova.
Cheguei em Curitiba às 01:30 da madrugada. Direto para o posto para completar o tanque e registrar o tempo da chegada. O mesmo frentista que me atendeu na saída e foi minha testemunha me recebeu novamente, também contente por eu ter conseguido terminar o Iron Butt. Aqui foram mais 219 km e média recorde de 24,61 km/l.
Percorri 1628,8 km (gps) ou 1623,1 no odômetro da moto, com 18:24 de tempo rodando e 21:16 de tempo total. Aqui, talvez, tenha um erro pelo tempo do GPS desligado,mas não acredito que seja superior a cinco minutos. A tela do GPS com o registro dos tempos, média e distância percorrida:
Agora é só juntar os tickets de abastecimento, preencher a planilha e submeter à IBA para a certificação.
Dicas:
- Planejar o trajeto previamente escolhendo por onde passar, principalmente se o roteiro for circular.
- Listar e deixar em local fácil as paradas programadas para não esquecer nenhuma;
- Manter a confiança e a calma, não se exceder e criar riscos desnecessários;
- Fazer paradas para tomar água,comer algo leve mais frequentemente;
- Se possível usar um camelbak, que facilita a hidratação nas regiões quentes;
- Manter os amigos e família atualizados sobre o seu paradeiro.
Quero agradecer ao grupo Iron Butt Brasil e principalmente ao André Carrazzone Neto, que se disponibilizou a ajudar durante a viagem e ao Jose Mattos que trocou muitas conversas para eu criar coragem e dar a partida.
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Paulo Janissek on 11 January 2016 3:08 pm
Parabéns Renato. Artigo excelente, incentivador e respnsável! O teu relato demonstra a importância do planejamento e responsabilidade, proporcionais ao tamanho da “aventura”.
Abraço!